O TEMPO -  PARTE IV

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               Arnaldo Jabor        

 

Será Que é Tarde Demais Para a América?
Publicado em: 12/02/2008
 

McCain é prosa e Obama é poesia. McCain nos oferece sua resistência ao câncer, seus cabelos brancos, o sofrimento mudo, o prisioneiro de guerra que resistiu. Tudo nele é resistência e dignidade. Um avô baby-boomer. McCain nos oferece o republicano que evoluiu. Bush é o macaco, McCain é uma evolução da espécie. Obama é o novo. Mas, o que é o "novo"? Obama tem um slogan igual (sic) ao do Lula: "hope over fear" - esperança além do medo, disse num discurso. Obama não passa a imagem do "pantera negra", do negro revoltado. Ele é o negro cool. Obama é um populista, mas um populista para intelectuais, para "Harvard men". Seu discurso é de alto nível e reúne as melhores reflexões progressistas do mundo de hoje, a solução para todos os problemas, com a palavra mágica "change". Obama é o negro sem rancor, o negro pósmoderno, que passou por Malcolm X, Martin Luther e que atingiu uma espécie de síntese de todas as virtudes políticas que almejamos: tolerância, a ecologia, a inteligência contra a mentira, anti-guerra, pela superação do bipartidarismo numa busca de "entente cordiale", contra os "lobbies", contra a tirania do petróleo, contra o efeito estufa. É o mais culto dos três. Ele é um partido único e um grande orador, coisa que não existia mais. Empolga as platéias vê-lo falar com a simplicidade de uma estrela humilde. Como Lula (que o faz por esperteza), Obama parece pairar "acima" da política, talvez por um jovem messianismo. Seu programa é o mais abrangente, profundo, quase abstrato, como se ele pertencesse ao mundo da filosofia. Ele também dá aos brancos que o apóiam a oportunidade de se absolverem por séculos de discriminação racial. Ele diz: "Quero os democratas, os independentes e os republicanos". Ou seja, tudo. Ele diz: "Eu não falo o que vocês querem ouvir; eu falo o que vocês precisam saber!" Esta é sua mentira; ele fala o que todos querem ouvir sim - "Change", a magia da mudança, mesmo sem objeto palpável, a simples palavra, a solução sem explicação, a esperança não se sabe bem de quê, o impossível inexplicável, alguma coisa pela qual valha a pena viver. Todo mundo quer isso. Obama é uma utopia, mas, a todos, parece crível quando gritam "Yes, we can!". Ele é um Viagra para a impotência histórica que vivemos.

Obama é quase um trocadilho com Osama. Assim como Osama mudou a América pelo mal, Obama quer mudar para o bem. Vocês sabiam que o nome do meio de Obama é Hussein? Ele esconde - faz bem -, seria trocadilho demais: Barack Hussein Obama. Por outro lado, que "cool"... - um presidente negro com nome de árabe. É a volta do sonho americano, um sessentista jovem, revisto e atualizado.

Outro aspecto seu é a imagem da sexualidade viva. Ele é sexy, um JFK negro, ele é a retomada do presidente que transa, sua mulher tem corpaço, bumbum. JFK era sexy e, não por acaso, o sexy Ted Kennedy o apóia. Bill Clinton também era, mas Ted deu-lhe um golpe de morte, apoiando Obama. Essa promessa de sexualidade negra ajuda: "Once you go black you never come back", dizem. Hillary não é sexy, tinha apelido de Miss Frigidaire na faculdade. E a imagem de sexo que ela evoca é a Mônica, enquanto o Bill vai atrás, mancando como um príncipe consorte, reparando a traição. É impossível vê-la sem pensar na "outra". Mas isso dá Ibope entre as mal-amadas, tantas na América... Já o Bush não comeu ninguém. Por isso, fu#&* o mundo... McCain é um herói de guerra. McCain se coloca como competente, sensato (Hillary também), mas será que o norte-americano hoje quer experiência ou esperança?

Assim como McCain é o passado dos "pais fundadores", Obama é o futuro dos "novos filhos" da América, cansados de tanto horror. McCain quer a volta, não a um passado reacionário, mas a Roosevelt, Reagan e, mais para trás, até Lincoln. Propõe um "newdeal" que não explica direito qual é. McCain só vira bicho quando se fala do Iraque. Quer aumentar o esforço de guerra, contra os demônios de Osama; aí, surge nele o guerreiro republicano, aí ele fala em "hearts and minds", fala em "forces of evil", mas ao mesmo tempo condena Bush, Guantámano e Abu Graib. Mas, diz, "nós somos melhores, nós temos Deus do nosso lado", mas não lembra que os EUA criaram Sadam contra o Irã, por exemplo. Fala do horror de torturas que teve no Vietnã, mas adoça-o falando de um vietcongue compassivo que o ajudou no sofrimento, fazendo o sinal da cruz e afrouxando seu suplício. Mesmo na tortura, Deus estava presente. Assim como McCain quer o passado, Hillary e Bill querem apagar um adultério. Hillary se mostra como uma Medéia que perdoou. Papai e mamãe é um de seus pontos de venda. Dois em um. Compre um e leve o outro de brinde. Bill continuará fiel ou vai aproveitar a mulher na Casa Branca e cair na gandaia? Hillary é mais segura para o "centro". Ela vai ter de bancar a republicana nos debates com McCain, e ele o democrata, se forem adversários.

McCain é legal também. É um homem de bem. Hillary também é legal. Obama, idem. Todos três são legais. Esta é que é a novidade e o enigma. Os três são legais, mas ninguém sabe como vai tirar a América do buraco em que o macaco Bush a jogou. Os três candidatos são filhos do Bush, que os pariu. Obama é a vanguarda, Hillary é "main stream", McCain o restaurador da dignidade perdida do GOP. Os três são a revolta contra Bush, a pior coisa que houve no século. Todos são a favor de todas as questões modernas do bem, mas a solução é dificílima. A América que os espere na esquina da realidade: uma guerra sem fim, um déficit brutal, uma recessão apontando, prestígio mundial a zero, liderança unipolar para as cucuias, China e União Européia bombando, dólar no brejo. Talvez os oito anos desse sujeito e sua gangue tenham danificado a historia norte-americana para sempre e a nossa de tabela. Talvez seja tarde demais. De qualquer modo, o nível subiu. Vamos ver... Há bushes que vêm para o bem...

 

 

 

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