Crônicas
Feijoada Completa
João era
gerente de uma agência bancária ali pelos lados da Savassi. Andava
sempre muito alinhado, de terno e gravata.
Costumava
convidar seus clientes para almoçar com a finalidade de fechar
negócios.
Na última
sexta-feira, João levou seu cliente Pedro Costa para degustar uma
deliciosa feijoada, com aperitivo de caipirinha e tudo, num
restaurante chiquérrimo.
Após o almoço, voltou para a agência satisfeito por ter fechado um
ótimo negócio.
Terminado o
expediente, foi pegar o carro no estacionamento. Pagou ao lavador,
que caprichara na flanela, e entrou no veículo todo cheiroso.
Quando engatou a primeira, sua barriga roncou, e roncou mais alto
que o motor do possante. João acelerou, furou sinal, cantou pneu,
desesperado – o intestino roncando, trovejando.
O pior estava
para acontecer a qualquer instante.
Estacionou o carro de qualquer jeito na garagem do prédio. Pegou o
elevador, que demorou uma eternidade. Apertou o botão do décimo
andar e rezou...
Mas a sua fé
não passou do segundo andar.
Enquanto o elevador subia, a feijoada descia perna abaixo.
No terceiro
andar, ficou o pé-de-porco.
A farofa ficou
no quarto andar.
Entre o quinto
e o sexto andar ficou a couve.
E no décimo
andar ficou a laranja e um apartamento vago, pois João se mudou do
prédio no dia seguinte.
Carlos
Eduardo Cardoso
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