Boléro de Ravel
Atividade Acadêmico Científico Cultural
Coreografia de Maurice Béjart
para o Boléro de Ravel, interpretada por Maia Plissetskaia.
Justificativa
O advento da internet revoluciona a
informação e em conseqüência provoca a mudança de hábitos e de atitudes.
Uma das propostas das Atividades Acadêmico-Científico-Culturais é
a de capacitar o aluno para a leitura das diversas manifestações
sócio-culturais e familiarizá-lo com o ambiente em que essas
manifestações ocorrem.
Entendendo que o ambiente virtual
tenha se imposto como um dos mais importantes espaços dessas
intercorrências, julguei importante incluí-lo no menu dos meus trabalhos
para esta disciplina.
Acredito ser impossível ignorar o
riquíssimo acervo disponível na rede mundial de computadores, ao mesmo
tempo em que seria um desperdício lastimável dispensar a enorme
possibilidade que nos é dada de estar em contato com informações e
manifestações de toda ordem emanadas de todas as partes do planeta. Além
do mais, se é verdade que a sociedade próxima vindoura será a sociedade
da informação, é premente que saibamos ExplorarSuas Florestas
de Saberes.
Béjart e Maia
Motivação
Justificativa feita, poderemos ver
que há coisas na internet que não podem e nem devem ser ignoradas (muito
ao contrário), pois têm muito a contribuir para a nossa formação e,
por que não, prazer. É o caso, justamente, do que acontece com o vídeo
que escolhemos destacar neste trabalho.
O que veremos aqui é a reunião de
três gênios da cultura do Século XX: Ravel, Béjart
e Maia Plissetskaia.
Em 1961, Maurice Béjart cria
uma nova coreografia para o Boléro, que havia sido escrito em
1928 para ballet.
Em 1975, Béjart entrega a
Maia Plissetskaia a responsabilidade de execução de sua obra.
Maia, senão a maior bailarina da
história, uma das maiores representantes dessa arte o fará com a
Maestria que lhe era característica, usando para isso de toda a sua
técnica e arte.
Mais tarde, esta coreografia foi
popularizada pelo bailarino Jorge Donn, no filme Retratos da
Vida, de Claude Lelouch em 1981, e em apresentações
mundo afora, inclusive uma realizada no Aterro do Flamengo no Rio de
Janeiro.
Jorge Donn, dançando o Boléro
A cenografia também participa na
criação de condições para que o vídeo (ou o ballet)
consiga o extraordinário resultado, como veremos. A escolha de um
tablado redondo, significando a Terra e o foco mínimo de luz na
bailarina são exemplo disso.
Para esta composição minimalista (o
ritmo constante para uma única frase musical), pensada para a dança
- Ravel dizia que não a compreendia sem o acompanhamento da dança -
Béjart pensou uma coreografia que, baseada na economia cênica –
apenas um tablado redondo (o planeta Terra) a alguma altura do
chão, uma bailarina solo e nenhuma luz em volta, com um mínimo de luz no
foco e alguns coadjuvantes em seu entorno -, possibilitasse a maior gama
de expressividade possível.
Desta forma, a bailarina se veste de
uma calça de malha preta (que desaparece no fundo escuro do cenário)
e uma malha cor da pele que sobressai o busto. Podemos perceber
nitidamente que a parte de baixo do corpo da bailarina (vestida de
preto e invisível) representa o ritmo da melodia, ritmo este
constantemente marcado e impulsionado pelos pés, enquanto que a parte de
cima do corpo (iluminada pela malha cor da pele) executa a frase
musical superposta ao ritmo constante e crescente da peça.
A expressividade de Maia (que
é saudada nos meios artísticos com um: Ave Maia!) propicia que a
mensagem idealizada por Béjart consiga ser lida pelos
espectadores de forma clara e emocionada.
Roteiro Possível de Leitura
Do início do vídeo até 1.16 s
podemos observar um show de técnica de Maia com os braços, talvez
o seu grande diferencial.
Os braços da bailarina parecem feitos
de borracha e dão a impressão de serem mais leves do que uma pluma. A
seguir ela une os braços à frente do corpo, abrindo as mãos em direções
opostas e começa a marcar o ritmo (tendo em vista a importância deste
movimento como contraponto ao discurso coreográfico, dar-lhe-emos o nome
de martelo), como se quisesse empurrar alguma coisa de volta ao
solo, alguma coisa forte (a energia da natureza?!) que precise
ser controlada, assim como o é o ritmo ascendente da canção.
A saudação ao espectador (1,47 s),
com o gesto de abertura dos braços, como quem tira alguma coisa do seu
peito e lança ao outro, os braços levantados e as mãos quebradas em V
convidam ao vôo, vôo que só a arte pode propiciar.
A seguir, os braços novamente
erguidos – braço e antebraço em 90º - os antebraços em movimentos
que parecem querer (convidando o espectador a) desbravar a
floresta da imaginação.
O rodopio, para conclamar a todos, e
o abraço para mostrar que a viagem da arte é fraternal, e quando os
braços vão subindo e apontando para o céu, Béjart quer dizer que
a arte e a fraternidade são formas de se iluminar e de atingir as
alturas etéreas.
Os movimentos laterais (3,06 s)
parecem dizer que a “viagem” será atribulada.
Um “martelo” invertido aos
3,32 s – voltado para o céu – seguido de outro para o chão
nos dizem da necessidade de dominar tanto as forças da terra, como as
oriundas do espaço infinito.
Aos 3,40 s o mais belo
movimento de todos, os braços de borracha (ou de boneca de pano)
de Maia conseguem nos mostrar a nossa incapacidade perante todas
essas forças que vimos até aqui tentando colocar ao nosso serviço, quais
sejam: as forças da natureza.
Mas o homem não pode parar, ele tem
que viver a sua vida de ser social, então ele se expressa, ele se dá ao
outro, como demonstra o belíssimo movimento do 4,26 s. Ele se dá
à natureza, ao outro e principalmente a Deus (4,42 s). Mas ele
pede em troca a sua sobrevivência, a comida (5,04 s).
Pela primeira vez, as pernas acorrem
em socorro ao busto da bailarina para dizer que o homem vai andar sobre
a terra e nela se espalhar (5,23 s). Nela vai se encontrar e
dialogar com o outro e com Deus também (5,35 s).
Continua a viagem, com os antebraços
desbravando agora a floresta humana, tentando a fraternidade entre os
povos (6,20 s). Um braço erguido e o outro abaixado rente ao
corpo, as duas mãos em 90º (7,00 s), o masculino e o feminino e a
possibilidade da vida paradisíaca, metaforicamente mostrada através dos
movimentos tradicionais da dança clássica (de 7,08 a 7,15 s).
Agora o braço que estava rente ao
corpo se eleva, formando par com o que estava erguido.
Já que há um par, aparece a
sensualidade (7,33 s), a faceirice (7,34 s), a leveza (7,35
s), mas o giro de 180º informa que esses sentimentos devem
ser direcionados para todas as pessoas.
A partir de 8,17 s somos
convidados a seguir este caminho, que nos levará ao aconchego humano e
de Deus – percebamos que o ritmo da canção está ascendente. Os braços se
erguem, com a mão em 90º, alternadamente ou juntos.
A confraternização se fará: ora
com um, ora com outro, ora com todos juntos. Vamos!
Conclamam os braços (9,16 s), não é difícil, diz a bailarina
em um pé só, a girar. É preciso reconhecer o terreno (9,54 s)
e dar graças aos céus (10,04 s).
Vai haver dificuldades, tristeza e
melancolia (10,52 s) – outra passagem das mais belas de Maia
com os braços erguidos tremulando dão a nítida impressão de melancolia.
A seguir reafirma a disposição de viver a vida e conclama a todos para
os exercícios da felicidade.
A seqüência final é a afirmação da
arte como a consubstanciação da essência da vida e da felicidade, tendo
em vista que a maior parte dos movimentos realizados é proveniente do
Ballet Clássico, pontuados por posturas emblemáticas, como a
exaltação da terra e do céu como referências viscerais para a vida e um
“Cristo crucificado no solo” (13,08 s).
Informações Complementares
Joseph-Maurice Ravel,
compositor impressionista francês fã de Mozart e influenciado por
Debussy tem no Boléro sua maior obra. Encomendada pela bailarina
Ida Rubinstein, estreou na Ópera Garnier-Paris, em
novembro de 1928. Ravel era de opinião que a música é emoção e
somente através dela pode ser entendida. A composição tem uma estrutura
mínima: o mesmo ritmo e uma única frase melódica, o que faz dela a “perfeição
musicada” e o arranjo crescente que o compositor imprimiu, com o
acréscimo contínuo de instrumentos rumo ao Clímax.
Justamente Considerada uma das
Mais Belas Obras da Música Erudita.
Maia Plissetskaia,
Bailarina Russa, nascida em 1925, é uma das maiores lendas da dança
mundial. Estrela do Ballet Bolchoi por muitos anos, demonstra
esplendorosa técnica, característica da escola russa, patenteada pelo
maior de seus corpos de baile, o Bolchoi.
Maurice Béjart nasceu em
Marselha, França, em 1 de janeiro de 1927 e morreu em 22 de
novembro de 2007, na Suíça. Formado em Filosofia,
iniciou-se na dança aos 14 anos na dança e se firmou como o Maior dos
Coreógrafos de seu Tempo. Buscando aproximar o Ballet das
grandes massas, buscou formas mais arrojadas e extremamente plásticas
para as suas coreografias.
Outras Coreografias de Béjart
Le sacre du printemps de
Stravinsky, coreografado por Béjart
Fragmentos de um Discurso Amoroso, de Roland Barthes,
coreografado por Béjart